Fragile Dreams

(Imagem: Link)


Ouvia-se ao longe, o persistente tic-tac do velho relógio de pêndulo que teimava em resistir à força da própria razão da sua existência: o tempo.
Um dos últimos estandartes da resistência ecléctica dos que não quiseram ir, "porque não queriam perdê-lo", diziam. O tempo... Preferiram afogar-se nas paredes oblíquas, tomadas pelo bolor dos dias todos iguais, que ao de leve passavam, por entre frisos, frestas e buracos, mais psíquicos que propriamente físicos.

Preferiram deixar-se por lá estar, indiferentes ao cheiro húmido da podridão jazente, tomados pelo selvagem desejo da tal morte que preconizavam. Da tal morte dissecada, explicada e teorizada à sua maneira, nos milhões de pequenos papéis espalhados pelo chão, escritos a lápis vermelho, da cor do sangue vivo que jorrava dos seus corpos, sempre que mais um pouco de carne era arrancado, em nome do tal castigo divino, auto-imposto, em nome de tudo o que não foram, porque não.

E ele queria tanto, juntar as peças de todos os puzzles, compreendê-los, para compreender-se por fim... Mas era incapaz. Faltava sempre a força para derrubar a porta... Ou as palavras, nunca suficientemente sucintas ou cativantes, a pontos de os demover da única vontade que haviam tido, desde sempre.

E assim sendo... O jogo acabava ali mesmo, para ele.

The road ahead is lined with broken dreams... So walk, yeah, walk on by...

1 comentário:

I.D.Pena disse...

Decadente mas também belo.

Quanto à musica, adorei, é daquelas que me deixam ko.

Beijo